A pneumatose intestinal (PI) constitui uma entidade rara, caracterizada pela presença de gás na parede cólica1. Pode ser idiopática, mas, na maioria dos casos, é um achado secundário a doença subjacente. O diagnóstico é radiológico e o espetro de apresentação variável, baseando-se a terapêutica na sintomatologia2.
Mulher de 69 anos, antecedentes de dislipidemia, internada por leucemia linfoblástica aguda (LLA) de células B precursoras e cromossoma Filadelfia positivo. Submetida a terapia de indução com inibidor da tirosina cinase (ITK) - Imatinib 600mg/dia, combinado com quimioterapia e esteroides. Durante o tratamento desenvolve clínica de náuseas, vómitos e obstipação grave, evoluindo o quadro com disfagia ligeira e aumento do perímetro cervical, associado a dor e distensão abdominal. Constatado enfisema cervical e torácico, abdómen distendido, timpanizado e doloroso à palpação. Realizou TC cervicotoracoabdominopélvica que revelou extensa PI no cólon ascendente e transverso, pneumoperitoneu com extensão mediastínica e tecido celular subcutâneo torácico e cervical. Assumido diagnóstico de PI cólica secundária a quadro de imunossupressão com Imatinib. Decidida suspensão do ITK, por ausência de outros fatores de risco, além do status de imunossupressão subjacente. Adotada estratégia conservadora com antibioterapia, dieta zero e oxigenoterapia de alta concentração com manutenção de pressão parcial de oxigênio arterial acima de 300 mmHg. A doente apresentou evolução favorável em 4 dias, sem necessidade de intervenção cirúrgica e o TC comparativo evidenciou melhoria significativa, à data de alta sem alterações radiológicas. Aquando do início da terapia de consolidação, decidida alteração de Imatinib para Desatinib, que cumpriu sem intercorrências.
O Imatinib pode causar PI através de efeitos imunossupressores não neutropénicos e inibição da motilidade intestinal3. Esta associação é rara e ocorre, na sua maioria, no contexto do tratamento de LLA4. A descontinuação habitualmente está associada a evolução benigna, sendo a cirurgia reservada para doentes com complicações associadas3.
Figura I

TC abdominal: pneumatose intestinal, pneumoperitoneu e pneumomediastino com extensão a tecido celular subcutâneo torácico e cervical.
Figura II

TC abdominal: pneumatose intestinal no cólon ascendente e transverso
BIBLIOGRAFIA
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2. Peter SD, Abbas MA, Kelly KA. The Spectrum of Pneumatosis Intestinalis.Arch Surg.2003;138(1):68–75
3. Vijayakanthan N, Dhamanaskar KP, Stewart LK, Connolly J, Leber BD, Walker I, et al. A review of pneumatosis intestinalis in the setting of systemic cancer treatments, including tyrosine kinase inhibitors. Canadian Association of Radiologists journal. 2121; 63(4): 312-317
4. O´Rafferty C, McElligott F, Storey L, O´Marcaigh A, Smith O. Pneumatosis intestinalis and imatinib mesylate. Ann Hematol. 2014;93(10):1783-1784