Apresenta-se uma mulher de 83 anos que recorreu à urgência por dor na grelha costal direita após traumatismo torácico devido a queda da própria altura. Ao exame objetivo apresentava dor à palpação da região torácica direita, sem equimose ou alterações da dinâmica respiratória. A radiografia da grelha costal revelou fratura da sexta, sétima e oitava costelas direitas. Teve alta medicada com analgesia. Foi readmitida na urgência, após dois dias, por dispneia e suposto edema da face e dos membros superiores. Objetivamente estava polipneica com saturação de oxigénio em ar ambiente de 88% e voz nasalada. Apresentava enfisema subcutâneo (EnSC) maciço da face condicionando encerramento palpebral bilateral, do pescoço, do tórax e de ambos os membros superiores e na auscultação pulmonar tinha diminuição do murmúrio vesicular à direita. A radiografia torácica mostrava exuberante EnSC de toda a parede torácica (Fig.1). Realizou tomografia computorizada torácica que confirmou o EnSC descrito com moderado pneumotórax à direita e pneumomediastino difuso (Fig. 2). Efetuou-se drenagem torácica com dreno de Joly, conseguindo-se expansão do pulmão direito. Foi internada, realçando-se resolução progressiva do EnSC, do pneumotórax e da contusão pulmonar com suplementação de oxigénio, controlo álgico e cinesiterapia respiratória.
A fratura de costelas (FCost) é a complicação mais frequente dos traumatismos torácicos contusos,1,2 podendo ocorrer após trauma ligeiro em doentes osteopénicos.3 Particularmente nos idosos, o risco de complicações é maior e a taxa de mortalidade aumenta cerca de 19%.4 O pneumotórax e a contusão pulmonar são complicações frequentes nos doentes com múltiplas FCost.5 Por outro lado, o EnSC tem uma prevalência estimada de 15%-34%.2 Apesar de habitualmente ser um problema maioritariamente estético, a velocidade de acumulação e a quantidade de ar determinam as consequências do EnSC, podendo causar obstrução respiratória ou circulatória. Geralmente o EnSC é tratado de forma conservadora, resolvendo espontaneamente ao fim de alguns dias.6
Figura I

Radiografia torácica a revelar exuberante enfisema subcutâneo de toda a parede torácica, não permitindo definir pneumotórax.
Figura II

Tomografia computorizada torácica a mostrar enfisema subcutâneo englobando toda a parede torácica, estendendo-se mesmo para a parede abdominal, nomeadamente posterior. Há ainda moderado pneumotórax à direita, bem como evidente pneumomediastino difuso e ligeira densificação parenquimatosa do lobo inferior direito, admitindo-se fina lâmina de derrame pleural a esse nível.
BIBLIOGRAFIA
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