A Síndrome de Hamman ou pneumomediastino espontâneo caracteriza-se pela presença de ar livre no mediastino sem evidência de trauma(1). Resulta da rutura alveolar e da pleura mediastinal causada pela diferença de pressão entre os alvéolos e estruturas adjacentes(2). O ar presente nas estruturas mediastínicas vai dissecando os tecidos moles, resultado em enfisema intersticial, e atravessa a pleura, evoluindo para pneumotórax(2). Distingue-se do pneumotórax porque o ar livre tem origem no mediastino e não nos alvéolos(2). Pode ser espontânea (idiopática ou associado a doença pulmonar) ou secundária (trauma ou iatrogenia)(2). Os autores apresentam um caso clínico Síndrome de Hamman.
Homem, 55 anos, fumador (80 unidades maço/ano), recorreu ao serviço de urgência por tumefação cervical direita insidiosa com uma semana de evolução. Associadamente, tosse seca, dispneia para esforços de moderada intensidade, astenia e anorexia desde há seis meses. Objetivamente, extenso enfisema subcutâneo na região cervical posterior direita, membro superior direito e dos dois terços superiores do hemitórax direito com extensão para o andar superior do hemitórax esquerdo. De referir, taquicardia regular de 109 batimentos por minuto, normotenso e com crepitações nas áreas de enfisema audíveis à auscultação pulmonar e cardíaca. Analiticamente, elevação da proteína C reativa (11,7mg/dL). Gasimetria arterial com insuficiência respiratória tipo 1. A telerradiografia torácica em incidências postero-anterior e perfil direito, em expiração, confirmava enfisema subcutâneo nas áreas indicadas, pneumomediastino e pneumotórax (Imagem 1). A tomografia torácica confirmou o enfisema subcutâneo e pulmonar, associado a pneumomediastino e pneumotórax de pequeno volume (Imagem 2). Apresentou evolução favorável, com resolução espontânea dos achados referidos. Teve alta para a consulta, sem recidiva do quadro.
A Síndrome de Hamman é rara, com incidência estimada de 1:44000(1). O tratamento é de suporte. A evolução tende a ser favorável, com resolução espontânea do enfisema nos dias seguintes(3).
Figura I

Imagem 1. Telerradiografia torácica em expiração, incidência postero-anterior: evidencia de enfisema subcutâneo e lâmina de pneumomediastino
Figura II

Imagem 2. Tomografia axial torácica. No corte de cima, setas indicam presença de enfisema subcutâneo extenso e de bolha enfisematosa na região apical direita a condicionar pneumotórax de pequenas dimensões. A segunda e terceira revelam pneumomediastino (seta) em diferentes cortes.
BIBLIOGRAFIA
1. Grapatsasa K, et al. Hamman´s syndrome (spontaneous pneumomediastinum presenting as subcutaneous emphysema): A rare case of the emergency department and review of the literature. Respiratory Medicine Case Reports. 2018;63–65.
2. Kouritas VK, Papagiannopoulos K, Lazaridis G, Baka S, Mpoukovinas I, Karavasilis V, et al. Pneumomediastinum. J. Thorac. Dis. 2015;S44–S49.
3. Gerazounis M, Athanassiadi K, Kalantzi N, Moustardas M. Spontaneous pneumomediastinum: A rare benign entity. J Thorac Cardiovasc Surg 2003;126:774-6.