Doente do sexo masculino de 43 anos, marmorista de profissão, enviado à consulta de Medicina Interna – doenças auto-imunes por Fenómeno de Raynaud em ambas as mãos, não valorizado pelo próprio até ao surgimento de úlceras digitais. Estava medicado com nifedipina 30mg/dia. No exame físico observadas lesões tipo necrótico, em todos os dedos, com sinais inflamatórios e exsudado purulento [imagem 1]. De salientar ainda “puffy fingers” e espessamento cutâneo nas mãos. Iniciou antibioterapia com Flucloxacilina, sem melhoria das lesões, pelo que se optou por admissão em regime de hospitalização domiciliária para antibioterapia endovenosa. Cumpriu inicialmente 6 dias de ceftriaxone e clindamicina depois, por ausência de melhoria, alterados para ceftarolina, que manteve por 15 dias. Durante o internamento esteve 5 dias sob perfusão de iloprost. Resolução dos sinais inflamatórios e cicatrização progressiva das lesões [imagem 2]. Do estudo efetuado ressaltam anticorpos antinucleares positivos (título 1/1280 e 1/320, padrão mosqueado homogéneo,em dois doseamentos distintos) e anticorpos anti DNA topoisomerase I (anti SCL 70) positivo. Feito assim, diagnóstico de esclerose sistémica com manifestação cutânea e fenómeno de Raynaud muito grave. Nestes doentes as úlceras digitais são uma complicação frequente e refletem a gravidade da microangiopatia1. As úlceras digitais são dolorosas, limitam a capacidade funcional das mãos e tem um impacto negativo importante na qualidade de vida2. A ausência de tratamento pode levar a amputação2. O tratamento é difícil, com elevadas taxas de recorrência e ausência de resposta, mas o iloprost e os inibidores da fosfodieterase-5 parecem ter um efeito positivo3. Neste caso o uso de iloprost e a antibioterapia permitiu um bom resultado evitando a amputação e melhorando significativamente a qualidade de vida do doente.
Figura I

lesões necróticas em todos os dedos das mãos com exsudado purulento, observadas na primeira consulta.
Figura II

evolução das lesões após tratamento.
BIBLIOGRAFIA
1 - Blaise S, Roustit M, Forli A, Imbert B, Cracowski J-L. Non-healing ischaemic digital ulcer in a systemic sclerosis patient: a challenging clinical case. Int Wound J 2017.
2 - Galluccio F, Cerinic M M. Registry Evaluation of Digital Ulcers in Systemic Sclerosis. International Journal of Rheumatology, 2010.
3 – Hughes M, Herrick A L. Digital ulcers in systemic sclerosis. Rheumatology, 2016