O leiomioma uterino é a forma mais comum de tumor benigno ginecológico. A prevalência é mais elevada na idade fértil, diminuindo na menopausa1,2. Corresponde a uma proliferação monoclonal de células musculares lisas, habitualmente de pequenas dimensões e classificado como submucoso, intramural ou subseroso consoante a sua localização1,3. As alterações degenerativas, decorrentes do seu crescimento e aumento de vascularização, podem traduzir-se numa aparência atípica nos exames de imagem, dificultando o diagnóstico diferencial.
Apresenta-se o caso de uma mulher de 49 anos, em pós-menopausa, com história de diabetes mellitus tipo 2 e hábitos tabágicos. Referenciada à Consulta de Medicina por diabetes de difícil controlo. No exame objectivo identificou-se a presença de uma volumosa massa abdominal endurecida, com limites bem definidos, de aparente origem pélvica com limite superior palpável imediatamente acima do umbigo. A doente notou aumento do volume abdominal, com alguns meses de evolução, mas não o valorizou. Não se apurou perda ponderal, dor abdominal, anorexia, náuseas, vómitos, alterações do trânsito intestinal ou perdas hemáticas vaginais.
Analiticamente apresentava anemia normocítica normocrómica (Hb 11,5 gr/dL), HbA1c 10,7%, sem outras alterações. Diagnóstico imunológico de gravidez negativo.
A ecografia abdominal mostrou volumosa massa abdómino-pélvica, com áreas de necrose e vascularização difusa. Tomografia computorizada (TC) a admitir provável ponto de partida uterino para a lesão tumoral com 25x23x15 cm, tendo sido colocada hipótese de natureza sarcomatosa (Fig.1 e 2).
Tendo em conta o volume tumoral e possibilidade de malignidade, foi realizada histerectomia total e anexectomia bilateral. Peça operatória com 3000 g; líquido ascítico negativo para células neoplásicas. Histologia compatível com leiomioma.
Os leiomiomas uterinos muito volumosos são raros e cursam habitualmente com dor e aumento do volume abdominal, perdas hemáticas vaginais, obstipação e sintomas urinários. Destacamos este caso por corresponder a um achado acidental em doente assintomática, apesar das suas dimensões.
Figura I

Tomografia computorizada (TC) abdomino-pélvica. Volumosa massa intra-abdominal com áreas quísticas e sólidas.
Figura II

TC abdomino-pélvica, plano sagital. Admitido provável ponto de partida uterino para a massa de grandes dimensões, com compressão dos órgãos intra-abdominais.
BIBLIOGRAFIA
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2- Wroński K. Giant uterine leiomyoma – case report and review of literature. New Med. 2014; 3:89-91
3- Kalayci T, Akath A, Sonmezgoz F, Samdanci E. A giant subserosal uterine leiomyoma mimicking an abdominal mass: multimodal imaging data. Acta Medica Iranica. 2015; 4:246-249