Apresentamos o caso de um jovem de 26 anos que recorreu ao Serviço de Urgência com dor, rubor e edema da perna esquerda, com 48 horas de evolução. Não apresentava factores de risco para trombose venosa profunda (TVP) e negou trauma. A ecografia de doppler identificou uma trombose da veia femoral homolateral. Na investigação etiológica foram excluídas trombofilias e solicitou-se uma tomografia computorizada (TC), que revelou a ausência da veia cava inferior (VCI) infra-hepática/supra-renal (Fig.1, Fig.2). O doente foi referenciado á consulta de cirurgia vascular e medicado com anticoagulante oral.
As anomalias de VCI são raras e frequentemente não são reconhecidas.1As anomalias congénitas da VCI estão presentes em 0.07-8.7% da população1e a agenésia da VCI (AVCI) tem uma incidência de 0.0005-1%.2Estima-se que seja a causa de 5% dos casos de TVP não provocada em doentes com menos de 30 anos.1,3
O aumento recente dos casos de AVCI identificados deve-se ao avanço nas técnicas de diagnóstico, tais como a TC4; pontualmente, estas anomalias são detectadas acidentalmente.5A apresentação clínica e o prognóstico são variáveis e dependem da drenagem da veia umbilical e dos respectivos vasos colaterais.3
A TVP é um achado frequente em adultos jovens diagnosticados com AVCI – o fluxo venoso reduzido, a hipertensão venosa e a própria anomalia morfológica parecem ter um papel importante nesses casos.2Assim, apesar da AVCI poder ser assintomática, devido ao mecanismo de compensação com vasos colaterais, pode também ter implicações significativas e debilitantes, obrigando a intervenções terapêuticas invasivas.5
A anticoagulação imediata dos doentes com TVP é crucial na prevenção de complicações. Contudo, em doentes com contraindicação para tal ou com falência da medicação, os filtros da VCI parecem ser a melhor opção.6
Figura I

TC com contraste revelando a drenagem das veias supra-hepáticas directamente na veia cava superior (seta vermelha).
Figura II

TC com contraste revelando múltiplos vasos colaterais da veia renal esquerda a drenar (que culminaram a drenar na veia supra-hepática esquerda).
BIBLIOGRAFIA
1.Skeik N, Wickstrom KK, Schumacher CW, Sullivan T. Infrahepatic inferior vena cava agenesis with bilateral renal vein thrombosis.Ann Vasc Surg.2013;27:973e19-23.
2.Kuldeep S, Fac S, James P, Syversten G, Douglas O, Kohler Met al. A rare cause of venous thrombosis: Congenital absence (agenesis) of the inferior vena cava.Int J Angiol. 2010;19:110–112.
3.Loomba S, Frommelt M, Moe D, Shillingford J. Agenesis of the venous duct: two cases of extrahepatic drainage of the umbilical vein and extrahepatic portosystemic shunt with a review of the literature. Cardiology Young. 2015;25:2.
4.Malaki M, Willis AP, Jones RG. Congenital anomalies of the inferior vena cava.Clin Radiol.2012;67:165-71.
5.Bjarnason H.Tips and tricks for stenting the inferior vena cava.Semin in Vasc Surg. 2013;26:29-34.
6.Smillie P, Shetty M, Boyer C, Madrazo B, Jafri Z. Imaging evaluation of the inferior vena cava.Radiographics.2015;35:578-92.