Homem de 27 anos, com diagnóstico de infeção por Vírus de Imunodeficiência Humana (VIH) cerca de 3 meses antes, sob terapêutica antirretroviral, sem doenças definidoras de Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (estadio B3, 22 linfócitos T CD4 /mL). Observado por dor ocular direita, edema peri-orbitário e palpebral, hiperémia conjuntival e lesão violácea junto à carúncula lacrimal, com uma semana de evolução (Fig. 1). Sem história de trauma ocular ou febre. Tomografia computorizada com sinais de sinusite maxilar e frontal, celulite orbitária pré e pós septal, e massa intraorbitária extra-cónica (Fig. 2). Pela possibilidade de etiologia infeciosa foi medicado empiricamente com ceftriaxone e clindamicina, sem resposta clínica. Realizada biópsia cirúrgica da lesão que revelou linfoma difuso de grandes células B (LDGCB). Sem evidência de doença noutras localizações, incluindo sistema nervoso central. Iniciou quimioterapia com esquema R-CHOP (Rituximab, Ciclofosfamida, Doxorrubicina, Vincristina e Prednisolona), verificando-se resposta clínica. O linfoma orbitário é o tumor maligno mais comum do olho, podendo ocorrer como doença primária em menos de 1% de todos os LNH.
1 Estima-se que o LDGCB seja o segundo subtipo mais comum de linfoma orbitário, havendo poucos casos descritos na literatura internacional.
2,3 Tem uma incidência mais alta em indivíduos VIH positivos, embora não estejam totalmente esclarecidos os mecanismos fisiopatológicos envolvidos.
3,4 Mais de 70% dos doentes com este subtipo têm mais de 50 anos.
2 Apresenta-se este caso pela raridade da patologia, principalmente nesta faixa etária. Alerta-se para a necessidade de considerar este diagnóstico na abordagem de massas orbitárias nos doentes infetados por VIH.
Figura I

Fotografia do olho direito a evidenciar edema peri-orbitário e palpebral, hiperémia conjuntival e lesão violácea junto à carúncula lacrimal (seta branca).
Figura II

Tomografia computorizada a evidenciar sinusite maxilar e frontal (setas verdes), celulite orbitária pré e pós septal e massa intraorbitária extra-cónica (seta vermelha).
BIBLIOGRAFIA
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