Apresenta-se o caso de um homem de 66 anos, com antecedentes de cirurgia com colocação de prótese total da anca esquerda, que recorreu ao Serviço de Urgência por dor na anca esquerda com 6 meses de evolução e irradiação para a região sagrada homolateral. Ao exame objetivo apresentava dificuldade na marcha e dor à mobilização ativa e passiva da articulação coxo-femoral esquerda. Realizou radiografia que revelou lesão osteolítica na anca esquerda. Foi internado para estudo tendo-se apurado a presença de imunofixação sérica com perfil monoclonal IgA Kappa, urinária com banda monoclonal nas cadeias leves Kappa, proteína Bence-Jones positiva com cadeias leves livres Kappa e medulograma sem aspetos sugestivos de mieloma múltiplo. Efetuou tomografia computorizada (TC) da coluna vertebral não tendo sido observadas lesões de osteólise e efetuou ainda Tomografia computorizada (TC) toraco-abdomino-pélvica que revelou uma volumosa lesão osteolítica na anca esquerda relacionada anatomicamente com uma massa de partes moles no obturador interno, deformando a bexiga e a próstata por compressão extrínseca. Para esclarecimento etiológico realizou biópsia guiada por TC tendo o estudo histológico evidenciado a presença de plasmócitos maduros e algumas formas imaturas, estudo imunocitoquímico com positividade franca e total para CD138, permitindo o diagnóstico de Plasmocitoma. Foi posteriormente orientado para consulta de Hemato-Oncologia para tratamento.
As neoplasias de células plasmocitárias consistem na proliferação anormal de um clone de plasmócitos que produz imunoglobulina monoclonal, podendo apresentar-se como uma massa circunscrita (plasmocitoma ósseo solitário e plasmocitoma extra-medular) ou doença disseminada (mieloma múltiplo)1. O plasmocitoma ósseo solitário constitui menos de 5% deste tipo de tumores2,3, sendo mais frequente no sexo masculino (2:1), no esqueleto axial e com idade média no momento do diagnóstico de 55 anos3,4. Este é obtido habitualmente por biópsia da lesão óssea com histologia típica sendo muito importante o diagnóstico diferencial e seguimento destes doentes pelo risco de evolução para Mieloma múltiplo2,4.
Figura I

Tomografia computorizada toraco-abdomino-pélvica com prótese total da anca à esquerda e lesão osteolítica que se continua com uma massa de partes moles no obturador interno
BIBLIOGRAFIA
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