Apresenta-se o caso de uma mulher de 18 anos referenciada à consulta externa por elevação de transaminases. Negava náuseas, vómitos, dor abdominal, anorexia ou perda ponderal. Sem antecedentes pessoais ou familiares relevantes e sem toma de medicação crónica. À observação clínica apresentava-se sem icterícia, palpação abdominal indolor, sem massas ou organomegálias. Realizou ecografia abdominal e Tomografia computorizada abdominal com nódulo heterogéneo em íntima relação com a cauda do pâncreas. Para melhor esclarecimento realizou Ressonância Magnética (RMN) abdominal com lesão quística heterogénea de 3,7x2,8 cm na dependência da cauda do pâncreas, empurrando posteriormente a suprarrenal esquerda, com hipersinal em T2, hipossinal em T1, com restrição em difusão e com realce muito discreto à periferia (Figura 1). Excluídos diagnósticos diferenciais de hepatites víricas, medicamentosas, entre outros, mas atendendo à idade e diagnósticos diferenciais de doenças infiltrativas como pancreatoblastoma, tumor quístico de ilhéus pancreáticos e neoplasia quística mucinosa realizou Ecoendoscopia que evidenciou nódulo de 35 x 30mm, hipovascular, heterogéneo misto com componente quística, localizado na dependência da cauda do pâncreas compatível com Neoplasia Pseudopapilar Sólida (Figura 2). Foi submetida a Pancreatectomia distal com preservação do baço sem intercorrências, com normalização do valor de transaminases após a cirurgia. Os achados histológicos revelaram Tumor pseudopapilar sólido do pâncreas, mantendo seguimento em consultas de Cirurgia Geral e Gastrenterologia.
O tumor sólido pseudopapilar do pâncreas foi descrito pela primeira vez em 1959 por Frantz1 e compreende 0,3 a 2,7% de todos os tumores primários pancreáticos2, afetando preferencialmente o corpo e cauda pancreáticos. Ocorre geralmente em mulheres jovens, com pico de incidência entre os 20 e 30 anos, e tem um baixo grau de malignidade3,4. O tratamento gold-standard é a resseção cirúrgica, apresentando excelente prognóstico e uma taxa de cura de mais de 95% no caso de doença localizada1,4.
Figura I

Ressonância magnética abdominal com lesão quística heterogénea na cauda do pâncreas.
Figura II

Ecoendoscopia que mostra nódulo heterogéneo misto com componente quística, bem delimitado com 35 x 30mm na dependência da cauda do pâncreas.
BIBLIOGRAFIA
1. Xavier FS, Urban CA, Coelho JCU, Torres LFB. Solid pseudopapillary tumor of the pancreas: report of one uncommon presentation case. J Bras Patol Med Lab. 2009; 45: 407-411
2.Kang CM, Kim KS, Choi JS, Kim H, Lee WJ, Kim BR. Solid pseudopapillary tumor of the pancreas suggesting malignant potential. Pancreas. 2006; 32 :276-80.
3. Teixeira D, Moreira R, Magalhães J, Ferreira M, Alpoim C. Tumor Pseudopapilar do Pâncreas: relato de um caso. Revista Portuguesa de Cirurgia. 2012; 22:55-60
4. Patnayak R, Jena A, Parthasarathy S, Vijaylaxmi B, et al. Solid and cystic papillary neoplasm of pancreas: A clinic-pathological and immunohistochemical study: A tertiary care center experience. South Asian J Cancer. 2013; 2: 153–157.