INTRODUÇÃO
A Hiperostose Esquelética Idiopática Difusa (DISH) é uma doença de etiologia desconhecida e caracteriza-se pela calcificação e ossificação de tecidos moles, nomeadamente ligamentos e tendões.1-4
É uma doença comum, com uma prevalência estimada de 4-35%, sendo a maioria dos portadores assintomáticos.1
Entre as doenças que podem cursar com proliferação óssea, para além da DISH, salientam-se a osteoartropatia hipertrófica, os distúrbios tiroideus, a acromegalia, o hipoparatiroidismo, as espondiloartropatias seronegativas e a osteoartrose.3
Classicamente estão definidos 3 critérios de diagnóstico de DISH, sugeridos por Resnick e Niwayama2,4,7:
·Calcificação e ossificação grosseiras ao longo da face anterolateral de pelo menos 4 vértebras contíguas
·Preservação dos espaços intervertebrais nos segmentos vertebrais envolvidos e ausência de alterações radiológicas extensas de doença discal degenerativa
·Ausência de anquilose óssea de articulações apofisárias e de alterações inflamatórias (erosões, esclerose ou fusão) das sacroilíacas
Relativamente aos critérios acima mencionados, de referir que o diagnóstico de DISH não é passível de ser realizado sem recurso aos critérios radiológicos. As condições degenerativas vertebrais comuns são na maioria excluídas com recurso aos dois primeiros critérios. Já o diagnóstico deferencial com espondilartropatias seronegativas poderá ser facilitado recorrendo ao terceiro critério.3,4
A prevenção e o tratamento das patologias metabólicas associadas, embora nem sempre sejam facilmente atingíveis, são a forma mais eficaz de atrasar/interromper a progressão da doença. Uma vez instalada a doença, o controlo da dor e a prevenção da rigidez tornam-se também, objetivos fundamentais do tratamento4,7
O recurso a intervenções cirúrgicas está essencialmente reservado para situações de mielopatia cervical ou torácica ou síndrome da cauda equina. Outras situações clínicas mais raras, como a que aqui descrevemos, podem também ter indicação cirúrgica.6,8
CASO CLÍNICO
Os autores descrevem o caso de uma doente de 79 anos, admitida no SU por quadro de dispneia. Apresentava respiração ruidosa, sem secreções aparentes, com estridor que agravava com períodos de sono e posição de flexão do pescoço. Foram realizadas nebulizações com brometo de ipratróprio e corticóide inalado e injetável, sem se verificar melhoria do quadro.
Foi solicitado uma tomografia computorizada do cavum/nasofaringe que demonstrou derrame envolvendo quatro vértebras contíguas e sindesmófitos anteriores exuberantes de C3-C4 a C6-C7, promovendo um deslocamento anterior da laringe. Essas alterações são consistentes com diagnóstico de hiperostose esquelética idiopática difusa, levando à obstrução posicional da via aérea superior, como ilustrado na figura 1.
Verificou-se no decorrer desta admissão, um compromisso progressivo da via aérea, com necessidade de realização de traqueostomia. A decisão acerca de uma eventual exostosectomia ficou para decisão futura.
CONCLUSÃO
Apesar de cursar na maioria dos casos com sintomatologia escassa, o reconhecimento da DISH torna-se de suma importância. Apresentações menos típicas como estridor e disfagia estão descritas, e podem cursar com a necessidade de abordagens invasivas.6
Prémios: imagem apresentada no XXI Congresso Nacional de Medicina Interna e nomeada como uma das 3 melhores apresentadasFigura I

TC cavum/nasofaringe: a seta indica derrame envolvendo quatro vértebras contíguas e sindesmófitos anteriores exuberantes de C3-C4 a C6-C7, promovendo um deslocamento anterior da laringe. Essas alterações são consistentes com diagnóstico de hiperostose esquelética idiopática difusa, levando à obstrução posicional da via aérea superior.
BIBLIOGRAFIA
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