Mulher de 75 anos, reformada da indústria metalúrgica, que recorreu ao Serviço de Urgência por desconforto abdominal nos quadrantes esquerdos irradiando à região infraclavicular ipsilateral, com 1 mês de evolução e agravamento progressivo. Apresentava esplenomegália palpável até à crista ilíaca, dolorosa, sem adenomegálias periféricas.
Analiticamente com pancitopénia, (Hemoglobina 8,6 g/dL, Leucócitos 2,57x109/L, Neutrófilos 0,91x109/L, Plaquetas 82 x109/L), desidrogenase láctica (LDH) 257 U/L (N <220) e albumina sérica 35,4g/L. Tomografia computorizada (TC) abdomino-pélvica (Fig´s. 1A e B) documentou volumosa esplenomegália homogénea e adenomegálias peri-celíacas/hepáticas.
Internada para esclarecimento etiológico. Manteve pancitopénia estável, apresentando na morfologia do sangue periférico “prolongamentos citoplasmáticos linfocitários e presença de dacriócitos”. Eletroforese das proteínas sem picos monoclonais.
Mielograma com contagem e celularidade normais e biópsia óssea (Fig. 2) com “agregados linfoides com localização atípica paratrabecular”, com caracterização posterior por imunofenotipagem concordante com Linfoma não-Hodgkin (LNH) - células B, podendo o imunofenótipo corresponder a linfoma de zona marginal (LZM) ou linfoma linfoplasmacítico (LPL). Os achados concomitantes tornam o primeiro mais provável, dada a presença de prolongamentos citoplasmáticos1 e ausência de gamapatia monoclonal.2O LZM corresponde a 10% dos Linfomas não-Hodgkin,3sendo a forma esplénica a manifestação mais incomum desta doença (8.2% do total), quando comparado com a forma nodal ou tecido linfoide associado à mucosa (MALT).4Estão descritas associações entre esta entidade e outras com ativação crónica das células B (e.g. infeções virais como o vírus da hepatite C), não identificadas na doente, podendo a exposição prolongada a metais pesados ser o fator preditivo neste caso.5Esta doença tem habitualmente um curso indolente, com sobrevivência média aos 5 anos de 76%, sendo considerados fatores de mau prognóstico hemoglobina <12g/dL, elevação da LDH e albumina sérica <35g/L.6
A doente mantém seguimento na Hematologia, tendo iniciado quimioterapia dado o bom estado geral e o marcado compromisso funcional decorrente da volumosa esplenomegália.
Figura I

A Corte Sagital
Figura I

B Corte Coronal
Figura II

Biópsia óssea. Agregados linfóides medulares em localização paratrabecular.
BIBLIOGRAFIA
1. Audouin J, Le Tourneau A, Molina T, Camilleri-Broet S, Adida C, Comperat E et al. Patterns of bone marrow involvement in 58 patients presenting primary splenic marginal zone lymphoma with or without circulating villous lymphocytes. Br J Haematol. 2003;122:404.
2. Dimopoulos M, Alexanian R. Waldenstroms macroglobulinemia. Blood. 1994;83:1452
3. Smith A, Crouch S, Lax S, Li J, Painter D, Howell D et al. Lymphoma incidence, survival and prevalence 2004-2014: sub-type analyses from the UKs Haematological Malignancy Research Network. Br J Cancer. 2015 Apr 28;112(9):1575-84.
4. Olszewski AJ, Castillo JJ. Survival of patients with marginal zone lymphoma: analysis of the Surveillance, Epidemiology, and End Results database. Cancer. 2013 Feb 1;119(3):629-38
5. Bracci P, Benavente Y, Turner J, Paltiel O, Slager S, Vajdic C et al. Medical history, lifestyle, family history, and occupational risk factors for marginal zone lymphoma: the InterLymph Non-Hodgkin Lymphoma Subtypes Project. J Natl Cancer Inst Monogr. 2014;52-65
6. Montalbán C, Abraira V, Arcaini L, Domingo-Domenech E, Guisado-Vasco P, Iannitto E et al. Risk stratification for Splenic Marginal Zone Lymphoma based on haemoglobin concentration, platelet count, high lactate dehydrogenase level and extrahilar lymphadenopathy: development and validation on 593 cases. Br J Haematol. 2012;159-64