Mulher, 45 anos, natural da Guiné-Bissau, país subdesenvolvido com elevada incidência de tuberculose. Como antecedentes, salientam-se sequelas de tuberculose pulmonar complicadas por aspergiloma pulmonar complexo, submetida a pneumectomia esquerda. Recorreu à urgência por dor torácica anterior direita, em aperto, de início súbito e acompanhada por dispneia.
À observação apresentava-se taquicárdica com frequência de 110 batimentos por minuto, dispneica com saturação periférica de oxigénio de 84%. A auscultação pulmonar direita não revelou alterações. Realizou Rx-Tórax (Fig.1) que mostrou hipotransparência homogénea do campo pulmonar esquerdo com desvio homolateral do mediastino (pneumectomia prévia) e atenuação da densidade parenquimatosa no terço superior do campo pulmonar direito. Ficou assintomática após suplementação com oxigénio mas a tentativa de suspensão do mesmo resultou em dessaturação grave e retorno da sintomatologia. Perante suspeita de embolia pulmonar, realizou Angio-TAC de tórax. Foi excluída embolia mas observou-se pneumotórax à direita (Fig. 2), desde o apéx até à base pulmonar, com áreas de atelectasia dispersas por todo o campo pulmonar, referindo-se também múltiplas aderências à parede pulmonar, possivelmente sequelares.
Diagnosticou-se Pneumotórax espontâneo secundário e, dado o elevado risco de colocar dreno torácico em doente com pulmão único e múltiplas aderências, transferiu-se para Hospital Central para drenagem por Cirurgia Torácica, que decorreu sem intercorrências.
O diagnóstico de pneumotórax na doença pulmonar crónica pode ser difícil e o rx pode falhar na demonstração da sua existência, tratando-se, nestes casos, de um pneumotórax oculto. Embora descrito mais frequentemente em associação a trauma,1deve ser considerado em doentes com patologia pulmonar prévia. Este diagnóstico exige elevado grau de suspeição, devendo realizar-se TAC de tórax que tem elevada sensibilidade na sua deteção, confirmando o diagnóstico e permitindo o tratamento atempado. De salientar que se pode ponderar ecografia torácica como exame inicial, sendo igualmente precisa no diagnóstico e mais barata e menos invasiva que a TAC.2
Figura I

Rx-Tórax póstero-anterior. Pneumectomia à esquerda. Atenuação da densidade parenquimatosa no terço superior do campo pulmonar direito.
Figura II

TC de Tórax, corte axial. Em ambos os cortes, visível pneumotórax desde a região apical até à base pulmonar (setas).
BIBLIOGRAFIA
1. Ball CG, Kirkpatrick AW, Feliciano DV. The occult pneumothorax: What have we learned? Can J Surg. Vol. 52, No. 5: 173-179
2. Volpicelli G. Sonographic diagnosis of pneumothorax. Intensive Care Med. 2011. 33:224-232.