As fistulas esofagobrônquicas (FEB) são raras e podem ser: congénitas ou adquiridas, benignas ou malignas (80%) ou idiopáticas.1,2,3As causas de FEB benignas são: cirurgia esofágica prévia, infecção esofágica/mediastínica (tuberculose e histoplasmose), trauma, radiação e corpo estranho.1,3 Manifesta-se com tosse associada à ingestão de líquidos (sinal de Ohno) e infecções respiratórias recorrentes.1,3O diagnóstico é estabelecido por trânsito esofagogástrico baritado, broncofibroscopia e endoscopia digestiva alta (EDA). A fistulectomia e encerramento cirúrgico são o tratamentostandard, mas foram reportados tratamentos endoscópicos de FEB benignas.1,2,3
Descrevemos o caso de uma FEB benigna no adulto, tratada por via endoscópica.
Trata-se de uma mulher (82 anos), com antecedentes de cardiopatia valvular (prótese mitral) e hipertensiva, com disfunção biventricular e hipertensão pulmonar. A doente recorre ao serviço de urgência por dispneia, tosse e expectoração após refeições líquidas, associada a disfonia, com início após episódio de engasgamento com osso de frango, três meses antes. Realizado trânsito esofagogástrico que demonstrou passagem de bário para a árvore brônquica, sugestiva de FEB (fig. 1A). Na EDA (fig. 2A) e broncofibroscopia confirmada a presença de orifícios fistulosos (esofágico e face posterior do brônquio principal direito), sem outras alterações da mucosa; a citologia e microbiologia do lavado brônquico foram negativas. Dada a idade e co-morbilidades da doente, decido tratamento não-cirúrgico. Após tentativas de encerramento de orifício esofágico com clips e árgon sem sucesso, foi possível encerrar transitoriamente a fístula através de cola de fibrina (fig. 1B e 2B). Alguns meses após a alta, a doente foi re-internada por pneumonia de aspiração, tendo-se verificado recidiva da FEB. Realizada nova tentativa de encerramento com cola de fibrina, desta vez sem êxito. Nesse contexto, decidida colocação de gastrostomia endoscópica percutânea.
As FEB são muitas vezes subdiagnosticadas (por apresentarem sintomas inespecíficos) pelo que implicam um elevado índice de suspeição.1,3 Os tratamentos endoscópicos são uma alternativa terapêutica em doentes de alto risco cirúrgico.1,2
Figura I

A - Fístula esofagobrônquica patente, com passagem de contraste do esófago para a àrvore traqueobrônquica; B - Fístula esofagobrônquica encerrada, sem saída de contraste do esófago (trânsito esofagogástrico baritado).
Figura II

A - Orifício fistuloso na parede do esófago (a 27cm da arcada dentária superior); B – Orifício fistuloso encerrado com cola de fibrina (endoscopia digestiva alta)
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