O penfigóide bolhoso (PB) é uma dermatose bolhosa auto-imune, que ocorre com mais frequência nos idosos (190-312 casos/milhão/ano em doentes com >80 anos)2, caracterizada pelo aparecimento de bolhas tensas, de forma localizada ou generalizada, associada a prurido, muitas vezes incapacitante.1-3 O diagnóstico é confirmado pelo exame histológico (hemateína-eosina e imunofluorescência direta), sendo a base do tratamento a corticoterapia.São reconhecidos múltiplos fármacos indutores de PB. Entre estes, os inibidores da dipeptidil peptidase 4 (iDPP4), mais frequentemente a vildagliptina, têm sido apontados como agentes causais de PB, em média seis a dezanove meses após a sua introdução.1-6
Descreve-se o caso de uma mulher de 86 anos, com o diagnóstico de diabetes mellitus (DM) tipo 2, medicada com metformina e vildagliptina, iniciada sete meses antes da observação. A doente foi admitida no serviço de urgência (SU) por dermatose bolhosa pruriginosa, com uma semana de evolução. Ao exame objetivo observavam-se bolhas tensas sobre manchas eritematosas, de tamanho variável e conteúdo sero-hemático, que evoluiram para erosões após rutura, distribuídas pelo tronco e membros, sem atingimento das mucosas (Figura 1). Foi medicada com prednisolona 40mg/dia e anti-histamínico e orientada para o médico assistente. Retornou ao SU três dias depois, com agravamento da dermatose, descompensação da DM e insuficiência renal de novo. Pela suspeita de PB iatrogénico, foi suspensa a associação metformina+iDPP4 e realizada biopsia cutânea, que mostrou achados característicos de PB (Figura 2), confirmando-se o diagnóstico. A doente realizou corticoterapia na dose de 1mg/kg/dia, com regressão progressiva das lesões bolhosas, em cerca de onze dias.
Este caso de PB parece relacionar-se com o início do iDPP4, quer pelo aparecimento da dermatose 7 meses após a sua introdução, quer pela rápida melhoria clínica após a sua suspensão, juntamente com corticoterapia.
Os autores alertam para o conhecimento desta associação e a necessidade de suspensão dos iDPP4 nestes casos.
Figura I

Figura 1 - Lesões cutâneas - Penfigóide bolhoso.
Figura II

Figura 2 - Retalho de pele com bolha subepidérmica (à esquerda) e presença de infiltrado inflamatório na derme com frequentes eosinófilos (à direita).
BIBLIOGRAFIA
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