Descreve-se o caso de um homem com 35 anos, autónomo, fumador de 10 unidades maço/ano, sem outros antecedentes relevantes. Recorreu ao serviço de urgência por palpitações e parestesias no hemitórax esquerdo, de início súbito. Referia, ainda, tosse produtiva com expetoração mucosa matinal. Sem outros sintomas acompanhantes. Objetivamente apresentava-se eupneico, apirético, normotenso e normocárdico, sem sinais de dificuldade respiratória e com saturação periférica de oxigénio superior a 94% em ar ambiente. O murmúrio vesicular era rude bilateralmente na auscultação pulmonar, mas sem ruídos adventícios. O eletrocardiograma era normal e a telerradiografia torácica mostrou opacidades reticulonodulares difusas bilaterais (Fig. 1). A tomografia computorizada (TC) do tórax mostrou adenopatias hilares e mediastínicas e, no parênquima pulmonar, identificaram-se micronódulos pulmonares, com áreas de confluência formando densificações irregulares, predominantemente nas porções centrais e metades superiores dos pulmões (Fig. 2).
O doente foi internado para estudo, tendo realizado broncofibroscopia, cujo lavado broncoalveolar revelou 14% de linfócitos e uma relação CD4/CD8 de 3.6. Foi excluída infeção por Mycobacterium tuberculosis. Do estudo analítico salientava-se elevação da enzima conversora da angiotensina (78.3U/L) e hipercalciúria (441mg/dia), com cálcio sérico normal. O exame histológico de biópsia transtorácica guiada por TC mostrou a presença de granulomas de células epitelioides sem evidência de necrose, sendo compatível com o diagnóstico de sarcoidose pulmonar.
A sarcoidose é uma doença granulomatosa multissistémica de etiologia desconhecida.1 O espetro clínico pode ser muito variável, mas o atingimento pulmonar ocorre em cerca de 90% dos casos.2 A presença radiológica de adenopatias e doença parenquimatosa pulmonar classifica a sarcoidose pulmonar em estadio II.3 O diagnóstico baseia-se na conjugação dos achados clínicos, imagiológicos e na identificação histológica de granulomas epitelioides sem necrose caseosa.4 Dado poder ser clinicamente paucissintomática e radiologicamente mimetizar várias doenças sistémicas é necessário um alto grau de suspeição clínica para o seu diagnóstico.
Figura I

Telerradiografia do tórax em incidência postero-anterior a mostrar infiltrados reticulonodulares difusos, bilaterais.
Figura II

Tomografia computorizada do tórax, em janela de pulmão, a mostrar micronódulos pulmonares, com áreas de confluência formando densificações irregulares, predominantemente nas porções centrais e metades superiores dos pulmões.
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