Os autores apresentam uma doente de 29 anos, sem terapêutica nem fatores de risco para fenómenos trombóticos, observada na urgência por edema e dor na região inguinal e face interna da coxa esquerdas com 3 dias de evolução, agravada com a marcha. Apresentava edema até à raiz da coxa esquerda, eritema e dor à palpação; D-dímeros e proteína C reativa elevadas,com gasimetria arterial normal. O doppler venoso confirmou o diagnóstico de trombose venosa profunda (TVP) aguda, com trombo que preenchia a totalidade da veia femoral esquerda, com extensão à veia ilíaca. Ficou internada no Serviço de Medicina, anticoagulada com enoxaparina e uso de meias elásticas. Realizou estudo de trombofilias - negativo, à exceção de fibrinogénio e anticoagulante lúpico. Ao 7º dia realizou switch para anticoagulação oral, com alta para a consulta de Cirurgia Vascular. Realizou angio-TC dos membros inferiores (Figuras 1 e 2) que confirmou o diagnóstico de síndrome de May-Thurner (SMT). Manteve ACO com indicação de reavaliação do estudo trombofilia. A SMT consiste na compressão venosa extrínseca da veia ilíaca interna esquerda (VICE) pela artéria ilíaca comum direita (AICD) contra as vértebras lombares inferiores, devido a uma variação anatómica.1 A prevalência é de ~20%,3 sendo predominante no sexo feminino e mais frequente entre os 20 e 40 anos de idade.1,2 Imobilização prolongada, cirurgia recente, contraceção hormonal, trombofilia, gravidez e puerpério são os principais fatores de risco para fenómenos trombóticos nestes doentes.2,4 As manifestações clínicas incluem dor, edema, TVP, tromboembolismo pulmonar, hematúria, lipodermatosclerose, úlceras cutâneas e tromboflebites recorrentes.1,2 O diagnóstico é dado pela combinação da clínica e dos achados imagiológicos.1,3Em 67% casos está associado a trombofilia.1 A terapêutica na presença de TVP é a anticoagulação e o uso de meias elásticas.1,2,3,4 A SMT é pouco reconhecida, sendo importante considerá-la no diagnóstico diferencial de TVP, especialmente em jovens.
Figura I

1. Imagem de corte horizontal de angio-TC ao nível de L4, onde se identifica compressão da AICD sobre a VICE e ao nível de S1-S2, com presença de trombo na VICE.
Figura II

2. Imagem de corte coronal de angio-TC, identificando-se o trajeto filiforme da VICE e se visualiza a compressão da VICE pela AICD.
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