INTRODUÇÃO: Comunicação intraventricular (CIV) é uma complicação mecânica rara com incidência de 1-2%1 e que diminuiu até 0.17-0.31% com utilização de técnicas de reperfusão coronária atuais.2 Ocorre tipicamente nos primeiros 3-5 dias após o enfarte agudo do miocárdio (EAM) ou nas primeiras 24 horas se for usado trombolitico.3 Trata-se de um evento catastrófico com mortalidade que atinge 94% em 30 dias e que necessita de intervenção cirúrgica urgente após a estabilização clinica.4
CASO CLINICO: Homem de 69 anos, caucasiano, diabético, hipertenso, admitido no serviço de urgência (SU) por quadro da dor precordial intensa, tipo aperto com irradiação para a mandibula com mais que 20 minutos de evolução e agravamento progressivo. Teve um episódio semelhante na semana anterior com resolução espontânea, mantendo o cansaço para o esforço medio. À admissão apresentava-se pálido, suado, taquipneico; hemodinâmicamente estável, auscultação cardíaca rítmica e sem sopros; auscultação pulmonar sem ruídos adventícios; sem sinais de congestão. O electrocardiograma revelou um EAM com supra-ST da parede inferior. O ecocardiograma transtorácico (ETT) no SU demonstrou uma hipocinesia dos segmentos medio-basais do septo inferior com derrame pericárdico moderado; troponina 2,7 ng/ml. O doente foi submetido a coronáriografia que mostrou oclusão total da artéria coronária direita tendo sido realizada angioplastia primária com colocação de dois stents farmacoativos. Ao 2ºdia do internamento auscultou-se um sopro holossistólico IV/VI. Repetiu ETT (Fig. 1) que revelou um defeito do segmento mediano do septo intraventricular inferior com 15mm de largura, trajeto sinuoso e com CIV. Tomografia computadorizada de tórax confirmou o diagnóstico de CIV (Fig. 2). Realizada correção cirúrgica da CIV por esternotomia mediana com circulação extracorpórea sem intercorrências, obtendo-se excelente resultado final, com alta hospitalar após uma semana de pós-operatório e ótimo follow-up.
DISCUSSÃO: o diagnóstico precoce e abordagem cirúrgica atempada, determinaram excelente resultado final, apesar da gravidade do caso clínico e do elevado risco operacional.
Figura I

Ecocardiograma transtorácico com estudo de doppler demostra CIV com fluxo de aceleração
Figura II

Tomografia computadorizada de tórax com contraste demonstra CIV da porção inferior do septo interventricular; formação sacular com extensão inferior que atravessa a parede inferior do ventrículo esquerdo, medindo 25x22mm, compatível com pseudoaneurisma
BIBLIOGRAFIA
1. Birnbaum Y, Fishbein MC, Blanche C, Siegel RJ. Ventricular septal rupture after acute myocardial infarction. N Engl J Med. 2002;347: 1426-32
2. Vikas Singh et al. Ventricular Septal Defect Complicating ST-Elevation Myocardial Infarctions: A Call for Action. The American Journal of Medicine, Vol 130, No 7, July 2017
3. AnnaLedakowicz-Polak et al. Ventricular septal defect complicating acute myocardial infarction—still an unsolved problem in the invasive treatment era. Cardiovascular Pathology, Volume 20, Issue 2, March–April 2011, Pages 93-8
4. Ruoxi Zhang et al. In-Hospital Outcomes and Long-Term Follow-Up after Percutaneous Transcatheter Closure of Postinfarction Ventricular Septal Defects. Biomed Res Int. 2017; 2017: 7971027.