Doente do sexo masculino de 71 anos encaminhado para a Consulta Externa de Medicina Interna para estudo de artralgias inflamatórias. Referia gonalgia inflamatória bilateral com cerca de 12 meses de evolução com progressivo aumento de intensidade e um episódio de tosse hemoptoica. Negava hábitos tabágicos desde há 6 anos, mas com uma carga tabágica de 75 unidades maço/ano. Objetivamente com evidência de face rugosa e seborreica e hipocratismo digital nos dedos das mãos e pés (FIGURA 1). Aportava estudo prévio com tomografia computorizada (TC) da perna direita com derrame articular femorotibial, reação periostal circunferencial metafisária e diafisária da tíbia, questionando a possibilidade de osteoartropatia hipertrófica secundária (FIGURA 2A). O estudo com perfil analítico demonstroudiscreto aumento da fosfatase alcalina (229 U/L) mas sem outras alterações relevantes. As provas funcionais respiratórias foram compatíveis com DPOC GOLD 2 Grupo A. A TC toraco-abdomino-pélvio mostrou volumosa lesão nodular no lobo superior do pulmão direito, sugestiva de neoformação (FIGURA 2B), com duas lesões idênticas no lobo inferior do pulmão esquerdo. Foi efetuada biópsia pulmonar transtorácica e a histologia evidenciou adenocarcinoma invasor de padrão acinar. A tomografia por emissão de positrões revelou fixação do radiofármaco em densificações pulmonares bilateralmente e na glândula suprarrenal esquerda, em relação com envolvimento secundário. Discutido em Reunião de Grupo Muldisciplinar, tendo-se decidido iniciar terapêutica quimioterápica paliativa com permetrexedo e carboplatina.
A osteoartropatia hipertrófica secundária é uma síndrome caracterizada pela proliferação anormal da pele e da parte distal das extremidades, bem como pela proliferação periosteal dos óssos longos1. Está frequentemente associada a neoplasias pulmonares, especialmente ao adenocarcinoma pulmonar1, 2, 3. A sua fisiopatologia permanece pouco definida, havendo várias hipóteses relativamente à sua origem2. O tratamento sintomático com anti-inflamatórios não esteroides ou outros analgésicos faculta alívio sintomático significativo e o tratamento da patologia subjacente permite, na maioria dos casos, a regressão das manifestações clínicas. Quando a sintomatologia é refratária, pode ser equacionado o tratamento com pamidronato e ácido zolendrónico1, 3.
Figura I

Figura 1 – A e B: Hipocratismo digital dos dedos das mãos e dos pés. C: Face rugosa e seborreica.
Figura II

Figura 2 – A: Reação periosteal metafisária e diafisária da tíbia direita. B: Tomografia computarizada torácica com volumosa neoformação do lobo superior do pulmão direito.
BIBLIOGRAFIA
1. Yap FY, et al.Hypertrophic Osteoarthropathy: Clinical and Imaging Features. Radiographics. 2017 Jan-Feb; 37 (1): 157-195.doi: 10.1148/rg.2017160052
2. Mohmoudieh L, Zakeri Z, Shahbaksh Y. Hypertrophic osteoarthropathy: Case report and literature review. Rheum Res. 2018 Jun; 3 (3): 91-94. doi: 10.22631/rr.2018.69997.1047.
3. Amrutha M, Rajagopal TP. Hypertrophic osteoarthropathy: Uncommon presentation of lung cancer. Cleve Clin J Med. 2017 Apr; 84 (4): 270-272.doi: 10.3949/ccjm.84a.15167.