Apresenta-se o caso de uma mulher de 68 anos, referenciada à consulta de Medicina Interna por nódulos duros e dolorosos nas mãos, com 3 anos de evolução. Objetivadas calcificações cutâneas nos 1º, 2º, 3º e 5º dedos da mão direita e 2º dedo e região hipotenar da mão esquerda (Fig. 1) confirmadas em radiografia (Fig. 2). Diagnosticada esclerose sistémica (ES) com critérios de CREST (Calcinose, Raynaud, Dismotilidade esofágica, Esclerodactilia e Telangiectasias), filiando-se a calcinose cutânea nesta patologia.
Designa-se por calcinose cutânea a deposição de sais de cálcio na pele e tecido subcutâneo. Embora rara, a calcinose tem várias causas e mecanismos subjacentes, tais como dano tecidular com distrofia cutânea local, calcificação metastática, calcifilaxia, iatrogénica ou idiopática.1,2A calcinose distrófica – por inflamação crónica e hipóxia vascular3,4 - carateristicamente não se associa a alterações do mecanismo do cálcio. A sua principal causa são as doenças autoimunes.1,3,5
Na ES, a calcinose cutânea ocorre maioritariamente na presença do CREST, afetando 25%-40% dos doentes 10 anos após o diagnóstico.1,2 Os locais mais prevalentes são regiões facilmente sujeitas a microtrauma, nomeadamente os dedos das mãos. Esta patologia associa-se a grande morbilidade por dor intensa potencialmente incapacitante e pode ter várias complicações como ulceração, compressão nervosa e a infeção com possível sépsis.4,5 Assinala-se como tratamento transversal a otimização da perfusão periférica com medidas não farmacológicas (nomeadamente evicção do traumatismo, tabagismo, exposição a frio e stress), com medidas farmacológicas e cirurgia para casos seleccionados.4 A doente iniciou nifedipina com resolução da dor e recuperação da autonomia.
Os autores consideram este caso relevante dado que o diagnóstico de calcinose é clínico com confirmação por imagem e este é essencial para uma boa orientação terapêutica com significativo impacto na qualidade de vida.
Figura I

Fotografia das mãos com depósitos de cálcio localizados na face plantar dos dedos (A) com pormenor da calcinose cutânea em ampliação à direita (B)
Figura II

Calcinose cutânea em radiografia das mãos em pronação (A) e incidência lateral (B) com focos de calcinose assinalados pelas setas a vermelho
BIBLIOGRAFIA
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