Sexo masculino de 66 anos, com antecedentes de hipertensão arterial, dislipidemia e hiperuricemia, enviado à consulta de Medicina Interna por quadro arrastado de disfonia e dispneia para médios esforços, com cerca de 15 anos de evolução e com agravamento no último ano, sem resposta a terapêutica broncodilatadora. O doente negou hábitos tabágicos e história prévia de infeções respiratórias de repetição, trauma, cirurgia ou entubação traqueal. Realizou tomografia computorizada torácica que revelou imagem típica “em fenda” característica da traqueomalácia (Fig. 1), sem outras malformações ou alterações pleuroparenquimatosas. Nas provas de função respiratória foi observada uma curva débito/volume em planalto, sugestiva de obstrução traqueal. A broncofibroscopia confirmou a presença de estenose traqueal concêntrica de cerca de 60% (Fig. 2), estendendo-se da região subglótica até 2.5 cm da carena, com calibre preservado da restante árvore brônquica. A análise das amostras traqueais e brônquicas recolhidas excluiu malignidade ou etiologia infeciosa. Em conjunto com a Pneumologia foi decidida terapêutica endotraqueal com colocação de prótese, com resolução da sintomatologia.
A traqueomalácia caracteriza-se por uma flacidez da cartilagem de suporte da traqueia, que pode ser segmentar ou difusa, causando um colapso na fase expiratória que resulta em obstrução parcial da via aérea.1 Pode ser congénita ou adquirida, sendo a última secundária a fatores como entubação seletiva, trauma, infeção, compressão extrínseca ou inflamação crónica.2 No entanto, a forma adquirida de traqueomalácia, embora rara na idade adulta, é frequentemente idiopática.3 Clinicamente manifesta-se por dispneia, tosse crónica, retenção de secreções e infeções respiratórias recorrentes. A tomografia computorizada das vias aéreas e a endoscopia respiratória permitem o diagnóstico inicial. O tratamento definitivo é endoscópico ou cirúrgico, sendo habitualmente eficaz, mas, uma vez que a possibilidade de recidiva está presente, é fundamental a manutenção de vigilância, preferencialmente por uma equipa multidisciplinar.3,4
Apresentação Prévia:
O presente trabalho foi apresentado no XXII Congresso Nacional de Medicina Interna realizado em Viana do Castelo em 2016, intitulado “Traqueobroncomalácia”, como Imagem em Medicina com a referência IMI-03-035.
Figura I

Tomografia computorizada torácica de doente com traqueomalácia adquirida, a revelar imagem “em fenda” característica.
Figura II

Endoscopia respiratória do doente, confirmando estenose traqueal em fenda de cerca de 60%.
BIBLIOGRAFIA
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