Apresenta-se o caso clínico de uma doente de 95 anos portadora de múltiplos factores de risco cardiovascular (Hipertensão Arterial,Diabetes mellituse dislipidémia). Era referida uma história de obstipação com vários dias de evolução. Foi admitida no hospital a partir do Serviço de Urgência por AVC isquémico em território da artéria cerebral média esquerda com clínica de disartria, paresia facial direita de tipo central e hemiparesia direita com face. Foram necessárias: colocação de sonda nasogástrica para alimentação e algaliação para registo de diurese. Em dia 4 de internamento inicia quadro de febre e elevação dos parâmetros laboratoriais inflamatórios, sem clínica localizadora de infeção aparente. Posteriormente foi observada urina de coloração roxa no saco da algalia. A análise sumária de urina revelou: pH 9,0, leucocitúria (500 leucócitos/uL), proteinúria (> 600mg/dL) e raros cristais de trifosfato. Em urocultura isolaram-seEnterococcus faecaliseProteus mirabilismultissensíveis. Não se verificou alteração da função renal (creatinina sérica 0,8 mg/dL). Foi admitido o diagnóstico de síndrome da urina roxa. Foi efetuada a troca da algalia e iniciada antibioterapia com ceftriaxone, de acordo com o antibiograma, que cumpriu durante 7 dias com resolução do quadro. A síndrome de urina roxa foi descrita pela primeira vez em 19781 e representa uma manifestação rara de infeção urinária relacionada com a algaliação. Constituem factores de risco para esta condição: sexo feminino, algaliação, obstipação, urina alcalina, doença renal crónica, infeções repetidas, síndroma demencial, acamamento e institucionalização.2 Pensa-se que esta coloração seja consequência da reação entre o indoxil sulfato presente na urina alcalina e a indoxil sulfatase das colónias de bactérias da urina, gerando-se indirubina (vermelha) e indigo (azul), que juntos tornam a urina roxa.3 Este caso assume especial importância porque para além de ser uma manifestação rara de infeção do trato urinário, poderá mesmo ser a única, sendo por isso importante o seu reconhecimento.
Figura I

Urina roxa no saco da algalia
BIBLIOGRAFIA
1. Khan F, Chaudhry MA, Qureshi N, Cowley B. Purple urine bag syndrome: an alarming hue? A brief review of the literature. Int J Nephrol. 2011; 2011(1-3):419213.
2. Lin CH, Huang HT, Chien CC, Tzeng DS. Purple urine bag syndrome in nursing homes: ten elderly case reports and a literature review. Lung FW Clin Interv Aging. 2008; 3(4):729-34.
3. Dealler SF, Hawkey PM, Millar MR. Enzymatic degradation of urinary indoxyl sulfate by Providencia stuartii and Klebsiella pneumoniae causes the purple urine bag syndrome. J Clin Microbiol. 1988;26:2152–6.