Os autores apresentam o caso de um homem de 69 anos com história de hipertensão arterial, dislipidémia, obesidade e doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) GOLD1 grupo A. Medicado com ramipril, atorvastatina e olodaterol.
Recorre ao Médico de Família por dispneia com um ano de evolução, associando-se nos dois últimos meses trepopneia em decúbito lateral direito e dispneia paroxística nocturna. Encaminhado para o Serviço de Urgência objectiva-se pescoço alado, glândula tiroideia palpável, auscultação pulmonar com broncospasmo, sem edema periférico. A radiografia de tórax sugere existência de massa no mediastino. A tomografia computorizada (TC) de pescoço (Fig. 1) descreve uma “tiroideia aumentada, com nódulos hipodensos, traduzindo bócio nodular, com marcada compressão da traqueia”. A TC de tórax (Fig. 2) identifica uma “volumosa massa com origem no lobo esquerdo da tiroideia estendendo-se ao mediastino e interpondo-se entre a aorta abdominal e a traqueia, medindo 6,8 cm de maior eixo”.
O doente ficou internado no Serviço de Endocrinologia. Não apresentava alterações da função tiroideia. Foi submetido a ecografia e citologia aspirativa por agulha fina cujo resultado foi insuficiente para diagnóstico, tendo sido submetido a tiroidectomia total sem intercorrências. O resultado anátomo-patológico foi hiperplasia multinodular, predominantemente macrofolicular. Após quatro meses permanece assintomático, medicado com levotiroxina 100 mcg, e mantém seguimento pelo seu Médico de Família.
Entre as principais etiologias de dispneia estão a asma, DPOC e insuficiência cardíaca. Raramente o aumento da dimensão da tiroideia comprime a via aérea e provoca dispneia [1, 2, 3]. Provavelmente a coexistência de DPOC neste caso atrasou a procura de apoio médico. Apesar da complexidade da abordagem cirúrgica [4], o diagnóstico e cirurgia céleres evitam um desfecho fatal para o doente [2]. Este caso põe em evidência uma situação clínica de comportamento indolente [1] mas potencialmente fatal, na qual a abordagem multidisciplinar constitui a chave tratar o doente.
Figura I

Tomografia Computorizada de pescoço, corte transversal, que evidencia uma glândula tiroideia aumentada, com marcada compressão da traqueia.
Figura II

Tomografia Computorizada de tórax, corte coronal, onde se observa uma volumosa massa com origem na glândula tiroideia com extensão ao mediastino, medindo 6,8 cm de maior eixo.
BIBLIOGRAFIA
1. Aghajanzadeh Manouchehr, Asgary Mohammad Reza, Mohammadi Fereshteh et al. An investigation into symptoms, diagnosis, treatment, and treatment complications in patients with retrosternal goiter. J Family Med Prim Care. 2018 Jan-Feb;7(1):224-229.
2. Massimiliano dell´Aquila, Alessandra De Matteis, Giorgio Bolino et al. Death Due to External Compression of the Trachea in a Patient With Multinodular Hemorrhagic Goiter. Forensic Sci Med Pathol. 2019 Sep;15(3):509-512.
3. Carmen Aragón Valera, Teresa Antón Bravo, Raúl Sanchón Rodríguez et al. Dyspnea and Stridor Due to Multinodular Goiter in an Obese Woman. Endocrinol Nutr. 2008 May;55(5):234-6.
4. C Nistor, A Ciuche, I Constantinescu. Emergency surgical tracheal decompression in a huge retrosternal goiter. Acta Endocrinol (Buchar). 2017 Jul-Sep;13(3):370-374.