Homem de 61 anos, fumador (60 UMA) recorre ao Serviço de Urgência por febre com 3 dias de evolução associada a disúria, polaquiúria e dor abdominal ao nível do hipocôndrio direito. Referia aparecimento de dor progressiva ao nível dos quadrantes superiores do abdómen acompanhada de aumento do volume abdominal com 5 anos de evolução. Negava existência de infecções respiratórias, urinárias, gastrointestinais ou traumatismos prévios. Foi admitido quadro infeccioso urinário e iniciou antibioticoterapia. Em internamento para esclarecimento de volume abdominal fez TC abdominopélvica (figura 1 e figura 2): presença de “volumosa massa multiloculada transcompartimental, com contornos lobulados e densidade de partes moles, heterogénea e hipodensa, que mede 305x113x256 com atingimento abdominal e pélvico, que rodeia e molda o contorno das estruturas vasculares e condicionando algum desvio dos órgãos sobretudo retroperitoneais e também do cólon”. Sem exames de imagem prévios.
Foi realizada biópsia por via laparoscópica: “existência de espaços quísticos loculados, revestidos por células epiteliais achatadas, sugestiva de linfangioma (higroma quístico)”. Devido às dimensões e localização da massa com envolvimento vascular (figura 2) não foi possível resseção cirúrgica. Foi discutido caso com Cirurgia Geral e Imagiologia e perante tempo de evolução, estabilidade da massa e recusa do doente em prosseguir tratamento optou-se por vigilância, com indicação para seguimento em consulta externa.
O higroma quístico é uma malformação congénita, caracterizada pela proliferação de vasos linfáticos de pequenas dimensões com tecido fibrótico.1 A apresentação em idade adulta é rara uma vez que se trata de uma condição habitualmente diagnosticada em idade pediátrica (abaixo dos 2 anos). Normalmente localiza-se ao nível da cabeça e pescoço, axila (20%), mediastino (5%) e mais raramente ao nível do abdómen.2
A maioria dos doentes é assintomática, apresentando sintomas relacionados com o crescimento da lesão. O tratamento indicado é a excisão cirúrgica total, de modo a evitar recidiva.
Figura I

Figura 1 – TC abdominal a mostrar massa abdominal heterogénea, predominantemente hipodensa, que ocupa toda a cavidade abdominal, medindo 305x113x256 de diâmetros transversal, AP e longitudinal respetivamente (imagem TC em corte coronal)
Figura II

Figura 2 – Massa abdominal, com diagnóstico histológico sugestivo de higroma quístico abdominal (imagem TC em corte sagital)
BIBLIOGRAFIA
1. Yang Y, Cai Y, Li Z, Fang Y, Xiang J, Chen Z. Mesenteric lymphatic hygroma in adults: A case report with a review of the literature. Oncol Lett. 2014;7(3):709-12. doi:10.3892/ol.2013.1778
2. Bahl S, Shah V, Anchlia S, Vyas S. Adult-onset cystic hygroma: A case report of rare entity. Indian J Dent. 2016;7(1):51-4. doi:10.4103/0975-962X.179374
3. Mallick KC, Khatua RK, Routray S, Lenka A. Cystic hygroma in adults – A rare case report. J Evol Med Dent Sci. 2014;3:2561–4.