INTRODUÇÃO: Descrita pela primeira vez por Edward Atkinson, em 1874,1 a rotura espontânea do baço constitui uma entidade rara, de diagnóstico difícil na ausência de exames de imagem, e elevada mortalidade, principalmente devido ao atraso no diagnóstico e na terapêutica.2
CASO CLÍNICO: Mulher, 60 anos, antecedentes de dislipidemia e HTA, medicada com clorotalidona, que recorre ao serviço de urgência por dor abdominal no flanco esquerdo, com irradiação lombar ipsilateral, em cólica, sem posição de alívio, com duas horas de evolução, associada a náuseas, sem vómitos ou outras alterações do trânsito gastrointestinal. Sem noção de febre. Sem história de trauma. Ao exame objetivo apresentava-se hemodinamicamente estável, apirética, abdómen depressível com defesa à palpação do flanco esquerdo, sem massas individualizáveis. Do estudo levado a cabo apresentava Hb 11,7 g/dL (normocítica, normocrómica), estudo da coagulação sem alterações; lactatos 1,8 mmol/L. Realizada Tomografia Axial Abdominal que evidenciou lesão esplênica de aspeto quístico, medindo aproximadamente 9,7 cm de diâmetro máximo, com conteúdo heterogêneo, com componente hiperdenso que se relacionava com volumoso coágulo no seu interior e hemoperitoneu de pequeno a moderado volume (Figura 1 e 2), sem alterações das restantes estruturas. Foi internada no Serviço de Medicina Intensiva para monitorização hemodinâmica, apresentando estabilidade sustentada, sem evidência de hemorragia ativa. Realizada esplenectomia parcial, cujo estudo histológico mostrou imagens de quisto de inclusão seroso esplénico, com pericistite crónica, focalmente xantomatosa, abcedada e hemorrágica.
DISCUSSÃO: A rotura espontânea do baço é incomum e subdiagnosticada na ausência de trauma.3 Pode estar associada a neopasias (30.3%), causas infecciosas (27.3%), inflamatórias não infecciosas (20%), iatrogenia (9.2%) e causas mecânicas (6.8%). Também podem ocorrer em baços estruturalmente normais, caracterizando a rotura espontânea idiopática (6.4%).4,5 Este caso pretende ressalvar a importância da tomografia computadorizada como exame de eleição para o seu diagnóstico, permitindo também fazer diagnóstico diferencial com outras causas de abdómen agudo.
Figura I

Cortes de Tomografia Axial, com evidência de lesão esplênica de aspeto quístico, com 9,7 cm de diâmetro máximo, com conteúdo heterogêneo, com componente hiperdenso, a corresponder a volumoso coágulo no seu interior e hemoperitoneu de pequeno a moderado volume.
Figura II

Cortes de Tomografia Axial, reconstrução coronal, com evidência de lesão esplênica de aspeto quístico, com 9,7 cm de diâmetro máximo, com conteúdo heterogêneo, com componente hiperdenso, a corresponder a volumoso coágulo no seu interior e hemoperitoneu de pequeno a moderado volume.
BIBLIOGRAFIA
1.Atkinson E. Death from idiopatic rupture of the spleen. BMJ. 1874; 2:403-4
2.Kianmanesh R, Aguirre HI, Enjaume F, et al. Ruptures non traumatiques de la rate: trois nouveaux cas et revue de la littérature. Ann Chir. 2003 Jun; 128(5):303-9
3. Debnath D, Valerio D. A traumatic rupture of the spleen in adults. J R Coll Surg Edinb. 2002; 47(1):437-45
4. Renzulli P, Hostettler A, Schoepfer AM, Gloor B, Candinas D. Systematic review of atraumatic splenic rupture. Br J Surg. 2009;96(10):1114-21.
5. Kocael PC, Simsek O, Bilgin IA Tutar O, Saribeyoglu K, Pekmezci S, et al. Characteristic of patients with spontaneous splenic rupture. Int Surg. 2014;99:714-8