Descrita pela primeira vez em Wuhan, Província de Hubei na China, em dezembro de 2019, a COVID-19, provocada pela infeção a SARs-CoV-2, evoluiu para uma pandemia, oficialmente declarada como emergência global de Saúde Pública pela OMS em janeiro de 2020.1 A doença pode cursar com pneumonia severa e desenvolvimento de síndrome de dificuldade respiratória aguda. A Ventilação Não Invasiva e Pressão Positiva Contínua na via aérea (CPAP), são largamente usadas na abordagem da insuficiência respiratória acarretada pela síndrome em que as apresentações radiológicas mais comuns incluem opacidades em vidro despolido, opacidades reticulonodulares e consolidações, geralmente bilaterais. 2
Pneumotórax, pneumomediastino e enfisema subcutâneo foram reportados num pequeno número de doentes COVID-19, mas a sua verdadeira incidência como complicação da doença ou tratamento permanece por esclarecer.3
Descrevemos o caso de uma doente, 79 anos, múltiplos factores de risco vascular, internada por infeção a SARs–CoV-2, doença grave, com insuficiência respiratória hipoxémica, tendo sido iniciada ventilação mecânica não invasiva com Helmet CPAP. Ao 5º dia de tratamento apresentou enfisema subcutâneo maciço (imagem 1), com infiltrados bilaterais na radiografia do tórax, sendo suspensa a ventilação, privilegiando-se medias médicas não invasivas como oxigenoterapia, e manutenção da corticoterapia sistémica. A doente evoluiu com reabsorção do enfisema e melhoria paulatina dos sinais de insuficiência respiratória.
As alterações radiográficas descritas (opacidades em vidro despolido, alterações consolidativas, e em fases avançadas da doença, alterações fibróticas), representam alterações pulmonares severas e acarretam lesões alveolares difusas que contribuem para o mecanismo de desenvolvimento de pneumotórax espontâneos descritos na literatura. Estas alterações, em associação com a hiperdistensão alveolar provocada pela ventilação mecânica (agravada quando se utilizam pressões positivas no final de expiração mais elevadas), coloca o doente em maior risco de desenvolver estas complicações.4 Estes doentes apresentam piores outcomes, devendo ser sempre consideradas estas complicações durante a sua abordagem.
Figura I

Radiografia do tórax, incidência anteroposterior em decúbito dorsal,com imagem de enfisema subcutâneo maciço
BIBLIOGRAFIA
1. Zhu N, Zhang D, Wang W, Li X, Yang B, Song J, et al. A novel coronavirus from patients with pneumonia in China, 2019. N Engl J Med. 2020;382:727–33.
2. Zu ZY, Jiang MD, Xu PP, Chen W, Ni QQ, Lu GM, et al. Coronavirus disease 2019 (COVID-19): a perspective from China. Radiology. 2020;296:E15-25.
3. Sun R, Liu H, Wang X. Mediastinal emphysema, giant bulla, and pneumothorax developed during the course of COVID-19 pneumonia. Korean J Radiol. 2020.
4. Zantah, M., Dominguez Castillo, E., Townsend, R.et al.Pneumothorax in COVID-19 disease- incidence and clinical characteristics.Respir Res21, 236 (2020).