Mulher de 82 anos com antecedentes de diabetes
mellitus tipo 2 com mau controlo metabólico (hemoglobina A1c dois meses antes de 14,1%) apresentou-se, de forma inaugural, com uma crise tónico-clónica bilateral. Foi tratada com diazepam com recuperação parcial do estado de consciência. O estudo etiológico permitiu identificar síndrome hiperosmolar hiperglicémica (glicémia de 759 mg/dl e osmolalidade sérica calculada de 330 mosmol/kg), hiperdensidade em Tomografia Computadorizada Cranioencefálica (Fig. 1) e hipersinal em T1 em Ressonância Magnética Cranioencefálica (Fig. 2) no corpo estriado esquerdo. No contexto metabólico descrito, estas alterações imagiológicas permitiram estabelecer o diagnóstico de estriatopatia diabética. Procedeu-se ao tratamento da síndrome hiperosmolar hiperglicémica com insulinoterapia com normalização da glicemia e recuperação gradual do estado de consciência. Durante o restante seguimento a doente não apresentou recidiva de crises epiléticas ou movimentos involuntários.A estriatopatia diabética é uma condição rara que ocorre em doentes com diabetes
mellitus tipo 2 e mau controlo metabólico. Cursa com as anomalias radiológicas descritas¹ e um dos diagnósticos diferenciais é a hemorragia intracerebral². Clinicamente associa-se frequentemente a movimentos hipercinéticos (coreia ou balismo) no hemicorpo contralateral ao dos achados imagiológicos³. Estão descritos na literatura poucos casos de estriatopatia diabética sem estes sintomas⁴˒⁵, o que pode dever-se à não realização de um estudo imagiológico sistemático nestes doentes. Os autores alertam para a tradução imagiológica da estriatopatia diabética e seus diagnósticos diferenciais, nomeadamente a hemorragia intracerebral pela sua gravidade e distinta abordagem terapêutica. Palavras-chave: Corpo estriado, Diabetes mellitus, Hemorragia cerebral, Síndrome hiperosmolar hiperglicémica.
Figura I

Hiperdensidade no corpo estriado esquerdo em Tomografia Computorizada (seta amarela)
Figura II

Hipersinal em T1 no corpo estriado esquerdo em Ressonância Magnética (seta amarela)
BIBLIOGRAFIA
¹ Abe Y. et al. Diabetic Striatal Disease: Clinical Presentation, Neuroimaging and Pathology. Internal Medicine. 2009;48(13):1135-41. doi:10.2169/internalmedicine.48.1996.
² Ryan C., Ahlskog, J. E., Savica R. Hyperglycemic chorea/ballism ascertained over 15 years at a referral medical center. Parkinsonism Relat. Disord. 2018;48,97–100. doi:10.1016/j.parkreldis.2017.12.032
³ Cressman S., Rheinboldt M., Lin D., Blasé J. Nonketotic hyperglycemia-induced hemichorea-hemiballism. Appl Radiol. 2018;47(6):24-26.
⁴ Sato H. et al. Diabetic striatopathy manifesting as severe consciousness disturbance with no involuntary movements. Diabet Med. 2017;34(12):1795-1799. doi:10.1111/dme.13526.
⁵ Chua C.B., Chen H.C., Su H.Y., Tsai T., Sun C.K. Images of the month 1: Diabetic striatopathy without hemichorea/hemiballism. Clin Med (Lond). 2019;19(5):412-413. doi:10.7861/clinmed.2019-0129.