Mulher de 26 anos, sem antecedentes pessoais de relevo, admitida no serviço de urgência com clínica de cefaleia, insónia, perturbações cognitivas e alucinações auditivas com uma semana de evolução. Apresentava também febre e dor torácica desde há dois dias. Ao exame objetivo, evidência de rash malar e ataxia. Do estudo complementar realizado, destacava-se elevação da velocidade de sedimentação e proteína C reativa, anemia, trombocitopenia, hematoproteinúria e derrame pericárdico. O estudo autoimune era positivo para anticorpos anti-nucleares (título de 1:1280), anti-double stranded DNA, anti-cardiolipinas e anti-β2-glicoproteína. Adicionalmente, havia consumo de complemento (frações C3 e C4). A análise do líquido cefalorraquidiano revelava pleocitose linfocítica, valores elevados de imunoglobulina G e presença de 3 bandas oligoclonais. A ressonância magnética craneo-encefálica evidenciava uma área circular hiperintensa no lobo frontotemporal direito (Fig. 1) ponderada em T2, sugerindo cerebrite. O eletroencefalograma identificava frequentes surtos de atividade lenta generalizada, com predomínio fronto-temporal bilateral.
Assim, estabeleceu-se o diagnóstico de lúpus eritematoso sistémico com envolvimento multiorgânico e foi iniciada terapêutica com corticóide sistémico e ciclofosfamida. Os défices neurológicos reverteram e os achados imagiológicos permaneceram estáveis. Após seis meses, a doente mantinha-se assintomática sob terapêutica de manutenção com azatioprina.
A cerebrite lúpica – uma lesão inflamatória do sistema nervoso central no contexto de lúpus eritematoso sistémico – pode ter apresentações clínicas e imagiológicas muito variáveis.1 Muitos dos seus síndromes neuropsiquiátricos associados não se traduzem em alterações imagiológicas, e os que as apresentam tendem a ser não específicos.2 Neste caso, a doente apresenta uma rara imagem de um processo inflamatório intracerebral: uma área circular hiperintensa em ponderação T2 de ressonância magnética, no lobo frontotemporal direito.
Figura I

Ressonância magnética em ponderação T2
BIBLIOGRAFIA
1. Fanouriakis A, Kostopoulou M, Alunno A, Aringer M, Bajema I, Boletis JN, et al. 2019 update of the EULAR recommendations for the management of systemic lupus erythematosus. Ann Rheum Dis. July 2019;78(6):736–45.
2. Sarbu N, Bargalló N and Cervera R. Advanced and Conventional Magnetic Resonance Imaging in Neuropsychiatric Lupus [v2; ref status: indexed, http://f1000r.es/5p5] F1000Research 2015, 4:162 (doi: 10.12688/f1000research.6522.2)