A intoxicação escombróide resulta da inadequada refrigeração de peixes de carne escura das famílias Scombridae e Scomberesocidae (como o atum), que condiciona o sobrecrescimento bacteriano, aumentando a conversão da histadina em histamina pela enzima bacteriana histamina descarboxilase1. Os sinais e sintomas (mais comuns: flushing na face e pescoço, eritema e rash urticariforme e diarreia), são secundários ao excesso de histamina produzida que ocorre 1 hora após o consumo do alimento contaminado2.
O diagnóstico é sobretudo clínico, podendo ser complementado pelo doseamento de histamina plasmática. A doença é autolimitada, contudo, em caso de persistência de sintomas, os anti-histamínicos H1 são o tratamento de primeira linha3.
Trata-se de um casal (homem 44 anos e mulher de 38 anos), ambos sem antecedentes nem medicação crónica, que recorreu ao serviço de urgência por palpitações, náuseas, sensação de calor, rash cutâneo pruriginoso no tronco e edema da face iniciados poucos minutos após ingestão de atum. À observação de ambos objetivado eritema generalizado no tronco, conjuntivas e taquicardia persistente; os sinais vitais encontravam-se dentro dos parâmetros de normalidade e não apresentavam outras alterações ao exame objetivo. Estudo analítico sem alterações. Foi realizado doseamento de histamina plasmática que revelou níveis acima do limite superior da normalidade (LN) em ambos >0,97 µg/dl (LN <0,10 µg/dl). Por suspeita de intoxicação escombróide, foi administrado anti-histamínico H1 verificando-se resolução completa do quadro clínico em 1 hora.
O resultado da intoxicação escombróide advém da reação ao excesso de histamina produzido na carne do peixe. A semelhança dos sintomas entre dois indivíduos que ingeriram o mesmo alimento em simultâneo e níveis elevados de histamina plasmática, permitiu fazer o diagnóstico clínico e diferencial de alergia alimentar.
Pretende-se com o presente caso clínico alertar os profissionais de saúde para a existência desta entidade nosológica cuja identificação apresenta importantes implicações de saúde pública.
Figura II
Rash generalizado após ingestão do atum.
Figura III
Hiperemia conjuntival.
BIBLIOGRAFIA
1. Hungerford JM. Scombroid poisoning: A review. Toxicon [Internet]. 2010;56(2):231–43. Available from: http://dx.doi.org/10.1016/j.toxicon.2010.02.006
2. Hall M. Something fishy: Six patients with an unusual cause of food poisoning! Emerg Med. 2003;15(3):293–5.
3. Codori N, Marinopoulos S. Scombroid fish poisoning after eating seared tuna. South Med J. 2010;103(4):382–4.