Mulher de 55 anos, admitida por tromboembolismo pulmonar (TEP), sem fatores de risco para o mesmo e sem queixas na revisão por aparelhos e sistemas. Exame físico sem alterações de relevo, exceto mau estado de preservação das peças dentárias e hipertrofia amigdalina direita indolor. Na investigação de causa paraneoplásica de TEP, realizou tomografia computorizada (TC) cervicotoracoabdominopélvica que revelou uma massa na amígdala palatina direita e adenopatias jugulares ipsilaterais, sugestivos de neoplasia e caracterizados por ressonância magnética (RM) que identificou tumefação amígdalina direita de 4cm (maior eixo) com hipersinal em T2 e hipossinal em T1 (Fig. 1). Realizada amigdalectomia direita cujo exame histológico revelou hiperplasia folicular linfóide (com imunofenotipagem negativa para linfoma) e colónias de Actinomyces (Fig. 2A e B). Iniciou tratamento com ampicilina e, 2 semanas depois, apresentava remanescência de infiltrado inflamatório em RM, tendo-se prolongado antibioterapia com amoxicilina durante três meses. Foram excluídas infeções víricas e doenças auto-imunes que contribuíssem para TEP e para hiperplasia folicular linfóide reativa.
A Actinomyces é uma bactéria anaeróbia Gram-positiva filamentosa, comensal da orofaringe, cólon e vagina que pode penetrar os tecidos profundos após disrupção da barreira mucosa, geralmente causando infeções crónicas e progressivas¹. Na orofaringe, estas ocorrem mais frequentemente na presença de cáries dentárias. A hiperplasia folicular linfóide é uma manifestação não supurativa cuja associação com a infeção por estes agentes é controversa²˒³. Inúmeros autores mostram que a actinomyces pode induzir hipertrofia amigdalina por hiperplasia folicular com características imagiológicas semelhantes a neoplasia, sobretudo se unilateral⁴. O exame histológico com documentação das colónias bacterianas e exclusão de outras causas de hiperplasia folicular é crucial⁵. Os autores pretendem alertar para um diagnóstico diferencial raro de tumefação amigdalina. Colocam ainda a hipótese de que, na ausência de deteção de outras condições, este estado infecioso indolente possa ter constituído um fator de risco para o desenvolvimento de TEP.
Figura I

Tumefação na amígdala direita com hipossinal em T1 em Ressonância Magnética (cabeça da seta).
Figura II

Cripta amigdalina e hiperplasia folicular linfóide reativa com formação de centros germinativos (* em 2A) com corpos tingíveis e ocasionais colónias de Actinomyces spp (cabeça da seta em 2B). Coloração com hematoxilina e eosina, amplificação 100x (2A) e 200x (2B).
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